Para CNBB, o que são ‘claras manifestações de desrespeito’ depende de quem está se manifestando
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em São Paulo irritou-se com o uso de uma imagem religiosa na Parada Gay de São Paulo, realizada no último domingo, 7. No evento, a atriz transexual Viviany Beleboni desfilou presa em uma cruz. Nesta quinta-feira, 11, a CNBB condenou o ato em nota divulgada no site da conferência e no Facebook do arcebispo da cidade, o cardeal dom Odilo Scherer:
“(…) é preciso cuidar para não banalizar ou usar de maneira irreverente símbolos religiosos”, diz a nota dos católicos, que também apela “aos responsáveis pelo Poder Público, guardiães da Constituição e responsáveis pela ordem social e pelo estado democrático de direito, que defendam o direito agredido”.
É curioso, no entanto, que a CNBB não pareça se incomodar quando esses“guardiães da Constituição” banalizam símbolos religiosos para aparecer na TV e nos jornais, ou quando estes mesmos jornais o fazem nas charges de humor que aparecem diariamente em suas primeiras páginas. Por que os gays não podem brincar com metáfora bíblica, mas o Congresso e a mídia podem?
Na última segunda-feira, 8, a presidente Dilma Rousseff comparou o ministro da Fazenda Joaquim Levy a Judas, devido a sua proposta de ajuste fiscal. No mesmo dia, o vice-presidente Michel Temer disse que Levy deveria ser tratado como “Jesus Cristo”, que foi crucificado, mas obteve posteriormente uma “vitória extraordinária”. Horas depois, Levy também resolveu entrar na brincadeira. Após o anúncio do novo programa de concessões do governo na área de logística, o ministro disse a jornalistas que agora ele era São Cristóvão, padroeiro dos transportes.
A transexual crucificada da Parada Gay vem recebendo ameaças de morte pela suposta heresia que cometeu ao se passar por Cristo. Enquanto isso, os políticos aparecem nas manchetes de jornais e suas “piadas” viram charges que estampam as primeiras páginas.
Fontes: G1 – Bispos divulgam nota contra uso de imagens religiosas na Parada Gay de São Paulo, G1 – Temer diz que Levy deve ser tratado como ‘Cristo’ após ajuste fiscal