No ano, tarifa já teve aumento de 35,26% para os consumidores residenciais
Apesar da recomposição dos reservatórios com as chuvas de fevereiro e março, o que, segundo cálculos do governo federal, permite descartar o risco de racionamento de energia neste ano, o bolso do consumidor mineiro sentirá novo aumento na conta de luz a partir de amanhã. Hoje, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) define o reajuste anual da tarifa de energia da Companhia Energética do Estado de Minas Gerais (Cemig). É a quarta elevação do ano. O percentual solicitado pela estatal é mantido em segredo, mas, segundo especialistas, deve oscilar entre 10% e 20%.
Até dezembro, o consumidor residencial pagava R$ 39,64 pelo consumo de 100KW/h (excluídos impostos). A partir de 1º de janeiro, houve acréscimo do sistema de bandeira tarifárias. Com a vigência da cor vermelha, devido ao uso das usinas térmicas, o consumidor paga mais R$ 3 a cada 100KW/h consumidos. Em fevereiro, dois reajustes simultâneos salgaram ainda mais a conta: a Aneel definiu o reajuste extraordinário para cobrir os gastos com o aumento do custo da energia em razão da seca e o preço a ser pago pelo sistema tarifário teve elevação, passando de R$ 3 para R$ 5,5 no caso mais crítico. Com isso, o total da conta do mesmo perfil de consumidor passou para R$ 53,62, alta de 35,26% se somados os três aumentos.
A projeção mais recente do Operador Nacional do Sistema Elétrica, publicado na quinta-feira, indica que até o fim do mês o volume armazenado nos reservatórios da Região Centro-Oeste/Sudeste, responsável por 70% da capacidade do país, deve ser de 33,9%. Caso o volume de chuvas não corresponda ao previsto, o total armazenado será de pelo menos 31,3%. Ontem, o volume médio era de 29,9%. O governo federal tem dito que caso a principal região geradora superasse 30% o racionamento energético era descartado. A expectativa é que esse mês registre 88% da vazão mensal da série histórica. Com os solos encharcados devido às chuvas dos últimos dois meses, quase a totalidade da água deve servir para recompor os depósitos das usinas. O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, disse em entrevista recente que é preciso chover aproximadamente 60% do volume da série histórica do período seco (de maio a novembro) para em dezembro os reservatórios terem ainda 10% do volume total.
No ano passado, na mesma época, a região registrava 36,86% do total. Por exemplo, a Usina Hidrelétrica de Furnas, responsável por 17,42% da capacidade de geração da região, estava com 27,5% do volume em 6 de abril de 2014. Ontem, apesar da insuficiência de chuvas em novembro, dezembro e janeiro, já estava com 22,98%. A usina de Nova Ponte, segunda mais relevante da região (11,39%), no ano passado estava com 25,41% ante 21,33% ontem. Três Marias, por integrar a bacia do Rio São Francisco, integra a Região Nordeste do sistema interligado, segundo o ONS. Com a política operacional de redução da vazão ao longo dos últimos meses, a usina conseguiu ultrapassar consideravelmente o volume armazenado durante o período chuvoso do ano passado. No mesmo período de 2014, o reservatório estava com 18,84%; hoje tem 32,62%. Isso irá garantir o fornecimento de água para as cidades ribeirinhas que dependem da bacia.
O diretor-geral da CMU Comercializadora de Energia, Walter Fróes, afirma que mesmo com o alívio no volume armazenado a tendência é que o volume seja inferior ao registrado no encerramento do período de chuvas do ano passado. Isso exigirá planejamento dos operadores para evitar a repetição de problemas. “Se comparar com janeiro, a situação é muito melhor, mas o planejamento a longo prazo exige uma operação sem erros”, afirma. Sobre o aumento de custo para o consumidor, ele crítica a política do governo federal e diz que o a falha foi não ter sido adotada política de racionamento. “Seria mais barato cortar certo nível de carga”, afirma, lembrando que a conta a ser paga pelos consumidores até 2020 é de R$ 37 bilhões.
Mercado prevê inflação de 8,2%
Se o próprio Banco Central já “jogou a toalha” em relação ao cumprimento da meta de inflação para este ano, o mercado financeiro elevou pela 14ª semana consecutiva sua projeção para a alta de preços medida pelo IPCA em 2015. De acordo com o Boletim Focus divulgado ontem, a estimativa do grupo de economistas ouvido pela autoridade monetária passou de 8,13% para 8,2%. Há um mês, a previsão para a alta de preços de 2015 era de 7,77%.
No fim do mês passado, o BC disse esperar uma inflação de 7,9% este ano, bastante acima do teto da meta que comporta uma alta de preços de até 6,5%. Para o grupo dos economistas que mais acertam as previsões – chamado Top 5 –, a mediana das previsões para o IPCA de 2015 é ainda maior, e passou de 8,33% para 8,44% esta semana. Para o final de 2016, a mediana das projeções para o IPCA foi mantida em 5,60%.
Por outro lado, a piora das expectativas quanto à alta dos preços administrados – que envolvem energia, combustíveis e gás de cozinha, por exemplo – parece ter se estancado. Depois de 16 semanas consecutivas de aumentos nas projeções para o indicador, a previsão nesta semana ficou estável em 13% para 2015.