Em análise no Jornal das Dez, apresentador diz que há “ausência de forte referências culturais” e, por isso, houve tamanha comoção com a morte do goiano
O ex-apresentador do Vídeo Show Zeca Camargo questionou a legitimidade da comoção nacional pela morte do cantor Cristiano Araújo na última semana. Em análise para o Jornal das Dez da Globo News, ele criticou a música sertaneja e sugeriu que o goiano, morto em um acidente de carro, não era um “ídolo de verdade”,
Logo no início do bloco J10 em Crônica, a apresentadora começa dizendo que Cristiano não era conhecido “nos grandes centros”, mas que era capaz de arrastar multidões no “interior do País”. Zeca Camargo, por sua vez, assegura que muita gente “estranhou” a comoção pela morte de Cristiano Araújo.
Entre as explicações para o suposto “estranhamento”, seria o tamanho do nosso território “cruzado” com nosso talento musical. Segundo o Zeca, “de uma hora para outra”, na última quarta-feira (29/6), fãs e “pessoas que não faziam ideia” de quem era Cristiano Araújo partiram para o “abraço coletivo”.
De acordo com o narrador, as pessoas precisam desse “abraço coletivo”, que vem em grandes funerais para expurgar dores como se tivessem capacidade purificadora. E cita as despedidas de Cazuza, Mamonas Assassinas, Lady Di, Michael Jackson e Ayrton Sena. “Mas como fomos capazes de nos deixar seduzir por uma figura relativamente desconhecida?”, questiona ele sobre Cristiano.
A resposta, segundo ele, está nos livros para colorir — caracterizados como os vilões do cenário pop, acusados de destacar “a pobreza da atual alma cultural brasileira”.
Zeca Camargo afirma que a morte de Cristiano e a cobertura de sua despedida pela mídia estão relacionadas justamente à ausência de fortes referências culturais de hoje em dia. Para ele, as pessoas criaram a ilusão da relevância do sertanejo. “Ao nos mostrarmos abalados com a ausência de Cristiano acreditamos estar de fato comovidos com a ausência de um grande ídolo e todos sabemos que não é bem assim”, critica.
O ex-apresentador do Vídeo Show aproveita para atacar, ainda, a música sertaneja que — mascarada sob a expressão “nossa canção popular”– é dominada, hoje, por revelações de uma música só, que “se entregam a uma alucinante agenda de shows para gerar um bom dinheiro antes que a faísca desse sucesso singular apague sem deixar uma chama duradoura”.
“E, nesse cenário, qualquer um pode, mesmo que por um dia, ser uma estrela maior. Teria sido esse o caso de Cristiano Araújo?”, questiona.
Ao final da análise, Zeca Camargo diz que o mais inquietante de tudo isso é que “nosso pop não precisa ser assim”. Segundo ele, nossa história musical e o passado recente mostram que temos tudo para “adorarmos ídolos de verdade” e para “chorar de verdade” a perda deles.
“Mas agora olhando em volta parece que não vemos nada disso. Não precisa ser assim. Precisamos sim de outro heroi. De mais herois, mas está todo mundo ocupado pintando jardins secretos”, arramata.
Veja o vídeo:
https://youtu.be/_CWPtxmA76I