Vale a pena fechar a jazida de Araxá?
Ainda restam mais de 100 milhões de toneladas de fosfato a serem explorados
“Fertilizante não é a praia da Vale. As unidades de Araxá e Tapira funcionam a contragosto da diretoria.” A afirmação é do deputado estadual de Araxá, Bosco, durante Fórum Comunitário realizado na Câmara Municipal no último dia 19 para debater o Projeto da Vale Fertilizantes que prevê a extração de minério de fosfato na cidade de Patrocínio, para ser transportado por via férrea e beneficiado em Araxá.
Ora, se a mineradora tem pouco interesse pelo segmento de fertilizantes, está explicado o descaso com a infraestrutura e a falta de investimentos para tornar a indústria de Araxá autossuficiente. Explicado também está o fato de a empresa não enviar representante ao Fórum Comunitário. Não interessa à multinacional a opinião dos representantes da comunidade, já que a decisão a respeito do projeto é unilateral, tendo em vista tão-somente a viabilidade econômica do projeto.
No que se refere à política da empresa em relação aos trabalhadores, então, é notório o desprezo pelo patrimônio humano da companhia. A unidade mineradora tem que dar muito lucro para ser viável, a um menor custo operacional possível. Para tanto, demite-se, transfere-se, reduzem-se salários com novas contratações, deixam de pagar direitos trabalhistas como adicional de insalubridade e até ameaça-se o fechamento.
O Sindicato posicionou-se no Fórum Comunitário e na imprensa a respeito do Projeto da Vale, na semana passada, mesmo na contramão de alguns segmentos que defendem com entusiasmo a participação de Araxá, enquanto a população de Patrocínio luta para que o minério seja não só extraído, mas também beneficiado naquela cidade.
Nós colocamos, para reflexão da comunidade, os seguintes questionamentos:
1º) O que realmente a Vale pretende, com a retomada deste Projeto?
2º) Na hipótese de se trazer o minério para ser beneficiado em Araxá, a usina está adequadamente aparelhada para comportar o volume de material a ser processado?
3º) A exploração do fosfato em outra unidade implicará no fechamento da mina em Araxá? Em caso afirmativo, o que será dos mais de mil trabalhadores, que ficarão desempregados?
4º) Tendo em vista que há ainda em Araxá 25 milhões de toneladas de fosfato a ser explorado na mina da Cascatinha e 80 milhões de toneladas na área da CBMM, por que não continuar operando nesta unidade, a um custo operacional muito menor?
5º) Será que a empresa irá manter as conquistas dos trabalhadores em acordos coletivos ou vai tentar negociá-las, com o fechamento da jazida de Araxá?
A Vale calcula que a unidade de mineração de Patrocínio terá capacidade para produzir 2,2 milhões de toneladas anuais de fosfato. Além do impacto ambiental que este imenso volume de material transportado para Araxá poderá trazer para o município, outra preocupação é com a já precária situação da usina no quesito segurança, já que temos observado acidentes muito graves nos últimos meses, envolvendo trabalhadores.
O que a população e as autoridades locais precisam saber é que a deficiente situação da fábrica representa uma grave ameaça ao ecossistema, devido à contaminação do solo por ácido sulfúrico e enxofre. Há rachaduras, vazamentos e gambiarras por toda parte. É necessária uma reestruturação geral da fábrica, para que ela atenda a toda essa demanda.
Por último, é nossa obrigação defender o trabalhador contra as injustiças dessa empresa. A Vale já vem ameaçando o fechamento da unidade, caso o Sindicato não flexibilize os horários das jornadas de turno. Nossa posição é a defesa das conquistas trabalhistas que tivemos até aqui. Mas se os empregados entenderem que devemos negociar com a empresa, que manifestem essa opinião, comparecendo às nossas reuniões e assembleias. A empresa tem aberto inscrições para preenchimento de vagas na área industrial, mas não consegue mão de obra especializada. Então, por que não treinar os trabalhadores da mina para operar na indústria?
O Sindicato irá defender sempre o que for melhor para o trabalhador. Vamos lutar pelos reajustes dos salários, pela manutenção dos horários de trabalho, dos benefícios e garantias conquistados, pela equiparação salarial, por uma justa participação nos lucros e resultados da empresa. Para isso, contamos, como sempre, com o imprescindível empenho dos trabalhadores. Não vamos ceder a pressões e intimidações
FONTE: CIMA
Veja as fotos: As péssimas condições da indústria provoam acidentes e são uma ameaça ao meio ambiente