O brasileiro fanático, imensa maioria da população, que em época de Olimpíadas e Copa do Mundo também aumenta para mulheres e pessoas que não gostam do esporte, vê o futebol como “patriotismo”. Acha que pelo menos durante o Mundial, é nossa obrigação valorizar o futebol de modo superior ao merecido. Quer que demos ao Wagner Love o Prêmio Nobel da Paz.
Este brasileiro é hipócrita! Confunde patriotismo com patriotada, e se ilude com isso. Antes fosse as duas coisas, mas não; o brasileiro inverte as posições. Fala mal do governo, dos políticos, do péssimo atendimento médico, da má qualidade do ensino, mas de quatro em quatro anos veste a carapuça do amor à pátria, falando que tudo é lindo, maravilhoso. Lança mão da patriotada, abre mão do patriotismo.
Patriotismo é sonho, desejo, utopia. É amar o país, e isso inclui otimismo, sim. Tanto o otimismo para com as belezas que apresentamos, como o otimismo de reconhecer os problemas que temos e querer mudá-los.
Já patriotada implica numa fé e esperança cega, mentirosa, ilusória. É acreditar na perfeição até mesmo na desilusão, no mendigo, na marginalidade. É fechar os olhos para o que nos rodeia, mentir para nós mesmos. É chegar ao cúmulo de pensar que são os jogadores a “redenção”, a “salvação”, e a bola, a “cura”.
Talvez quando a partida fosse encerrada com um apito, este brasileiro iria para sua casa, veria-se sem comida, sem emprego, sem roupas e até mesmo sem casa. Talvez ele olharia para os problemas do país, personificados nele. Talvez. Mas muito provavelmente ele iria para um baile, para um bar ou fazer um “televizinho” – como nos tempos em que todos viam televisão na casa dos poucos privilegiados que tinham uma. Assim, saberia do próximo dia em que a Seleção Brasileira entraria em campo, com seus heróis sagrados lhe garantindo a revigoração de sua auto-estima.