Nesse momento de início do processo eleitoral nos municípios, novamente ganha
importância a necessidade do debate a respeito da compra de votos.
Essa prática, que
lamentavelmente tem crescido em todo o país, além de ilegal é imoral. Representa uma
forma de abuso do poder econômico no desvirtuamento da vontade da população no
processo de escolha de seus governantes.
Em um regime democrático, é através da eleição que os cidadãos escolhem aqueles
que melhor representarão seus interesses e princípios. Esses representantes irão decidir em
seu nome. Logo, deve haver uma identidade e uma proximidade ideológica entre
representado e representante. A compra de votos quebra a legitimidade dessa
representação. Ela deturpa e corrompe o processo de representação democrática.
É senso comum no Brasil a idéia de que os políticos fazem parte de um agrupamento
que desfruta de pouca credibilidade. Tornou-se comum a afirmação de que o cidadão não se
sente representado pela classe política. Mas, quem escolheu cada representante político?
Não foi a própria população que depois se diz não representada?
É importante que fique claro a importância da política em seu sentido mais amplo: de
mediação das relações entre os elementos e agrupamentos em uma sociedade. Todas as
regras de convivência em sociedade são definidas pela política, sejam regras penais,
econômicas, sociais, culturais, esportivas, etc..
Nesse sentido, não existem sujeitos apolíticos. Quem assim se define, assume, na
realidade, uma posição política de concordância com o que está posto e de aceitação da
decisão dos demais. Assume o ônus e o bônus de sua postura de omissão.
Dessa forma, ao se permitir que a escolha dos representantes políticos se faça com a
importância crescente do estratagema da compra de votos, a sociedade está, de fato, pondose a venda. A compra de votos submete, progressivamente, a decisão do destino de uma
coletividade de acordo com os interesses dos detentores do poder econômico.
Como explicar que alguém gaste numa campanha eleitoral muito mais dinheiro do que
irá receber de subsídios ao longo de seu mandato? Parece lógico supor que quem faz isso
pode estar tencionando recuperar o dinheiro de outra forma.
Esse círculo vicioso espúrio se auto-alimenta. O cidadão desavisado vende seu voto
na busca um benefício imediato e egoísta. Ao agir assim, compromete um projeto de longo
prazo e de interesse coletivo. O político desonesto se corrompe, pois precisa do dinheiro
para comprar votos no próximo pleito eleitoral.
A sociedade precisa dar um basta nisso. Precisamos dar início a um círculo virtuoso,
onde as pessoas se importem em discutir as questões políticas e pensem no interesse
coletivo. Que as escolhas dos representantes sejam pelas suas qualidades e pelas suas
propostas de trabalho.
Que esse pleito eleitoral seja a oportunidade da sociedade escolher seus
representantes sem a interferência espúria da compra de votos