“Corre que eles vão matar a Luana”. Foi pelo aviso de uma vizinha que familiares de Luana Barbosa dos Reis Santos, 34 anos, começaram a entender o porquê dos gritos e tiros que tomaram a vizinhança, na noite de 08 de abril de 2016.
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Preta, lésbica e moradora de periferia, Luana foi abordada por policiais militares na esquina de sua casa, em Ribeirão Preto (SP), quando levava seu filho de 14 anos à aula de informática. Após solicitar a presença de uma policial feminina para ser revistada – procedimento recomendado pela legislação brasileira – ela foi brutalmente espancada pelos agentes Douglas Luiz de Paula, Fábio Donizeti Pultz e André Donizete Camilo, do 51º batalhão da corporação. A jovem foi encaminhada à Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas, mas morreu cinco dias após o episódio, em decorrência de uma isquemia cerebral causada por traumatismo crânio encefálico, segundo laudo do Instituto Médico Legal.
Em 18 de abril de 2018, a Polícia Civil de Ribeirão Preto finalizou inquérito policial concluindo que houve “lesão corporal seguida de morte”. Os três policiais acusados tiveram a prisão solicitada pelo promotor de justiça Eliseu Berardo Gonçalves. No entanto, o pedido de prisão preventiva foi negado em 9 de maio do mesmo ano pelo juiz José Roberto Bernardi Liberal.
Na última terça-feira (26), o processo judicial relativo ao caso teve sua sexta audiência de instrução no Fórum da cidade. A expectativa girava em torno da participação dos vizinhos da vítima que presenciaram o crime. Porém, eles não compareceram. Na audiência anterior, realizada em 7 de março, isso já havia acontecido. Os advogados da família acreditam que as testemunhas estejam sendo ameaçadas.
A sessão transcorreu em um clima de hostilidade, com o tribunal rodeado de policiais. A defesa dos PMs trouxe à corte um homem que supostamente teria trabalhado em um posto de gasolina onde Luana abastecia sua moto. Ele teria procurado “voluntariamente” a Polícia Militar e informado que Barbosa era “uma pessoa muito agressiva”.
Quando questionado sobre o fundamento da alegação, o homem disse que presenciou duas ocasiões em que teria visto Luana “alterada” e “nervosa” no posto. A advogada Dina Alves questionou a autenticidade do depoimento:
“No mínimo estranho essa voluntariedade da testemunha em ir depor no batalhão. Primeiro porque quem investiga é a Polícia Civil e ele procurou o batalhão da PM.” Para ela, trata-se da continuidade de uma estratégia da defesa de criminalizar a vítima depois de morta: “Já tentaram de todo modo criminalizar a Luana. Disseram que ela seria lutadora de esportes marciais, pessoa violenta, usuária de drogas, traficante”, explica.
Para Alves, é fundamental que exista uma articulação dos movimentos sociais para acompanhar o caso. Ela acredita que o crime contra Luana Barbosa é tão significativo quanto o causado contra Marielle Franco, vereadora e defensora de direitos humanos assassinada em 14 de Março de 2018.
A Voz de Araxá combate todos esses racistas e fascistas de merda!
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