Perguntamos a 380 dos principais cientistas do clima o que eles sentiam sobre o futuro.
“Às vezes é quase impossível não se sentir desesperado e despedaçado”, diz a cientista climática Ruth Cerezo-Mota. “Depois de todas as inundações, incêndios e secas dos últimos três anos em todo o mundo, todos relacionados às mudanças climáticas, e depois da fúria do Furacão Otis no México, meu país, eu realmente pensei que os governos estavam prontos para ouvir a ciência, para agir no melhor interesse das pessoas”.
Em vez disso, Cerezo–Mota espera que o mundo se aqueça em um catastrófico 3°C neste século, ultrapassando a meta internacionalmente acordada de 1,5°C e causando enormes sofrimentos para bilhões de pessoas. Esta é a sua visão otimista, ela diz.
A reportagem é de Damian Carrington, publicada por The Guardian, 08-05-2024.
“O ponto de ruptura para mim foi uma reunião em Cingapura,” diz Cerezo–Mota, especialista em modelagem climática na Universidade Nacional Autônoma do México. Lá, ela ouviu outros especialistas explicarem a conexão entre o aumento das temperaturas globais e ondas de calor, incêndios, tempestades e inundações prejudicando as pessoas – não no fim do século, mas hoje. “Foi quando tudo se encaixou. Eu tive uma depressão”, ela diz. “Foi um ponto muito escuro na minha vida. Eu não conseguia fazer nada e estava apenas sobrevivendo.”
Cerezo–Mota se recuperou para continuar seu trabalho: “continuamos fazendo isso porque temos que fazer, então [os poderosos] não podem dizer que não sabiam. Sabemos do que estamos falando. Eles podem dizer que não se importam, mas não podem dizer que não sabiam”.
Em Mérida, na península de Yucatán, onde Cerezo–Mota mora, o calor está aumentando. “No último verão, tivemos cerca de 47°C máximo. A pior parte é que, mesmo à noite, são 38°C, o que é mais alto do que a temperatura do seu corpo. Não dá um minuto do dia para o seu corpo tentar se recuperar”.
Ela diz que ondas de calor recordes levaram a muitas mortes no México. “É muito frustrante porque muitas dessas coisas poderiam ter sido evitadas. E é apenas bobo pensar: ‘Bem, não me importo se o México for destruído’. Vimos esses eventos extremos acontecendo em todos os lugares. Não há um lugar seguro para ninguém.
“Acho que 3°C é ser esperançoso e conservador. 1,5°C já é ruim, mas não acho que há alguma maneira de conseguirmos nos manter nisso. Não há nenhum sinal claro de nenhum governo de que realmente vamos ficar abaixo de 1,5°C”.
Infuriante, angustiante, avassalador
Cerezo-Mota está longe de estar sozinha em seu medo. Uma pesquisa exclusiva do The Guardian com centenas dos principais especialistas em clima do mundo constatou que:
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77% dos entrevistados acreditam que as temperaturas globais atingirão pelo menos 2,5°C acima dos níveis pré-industriais, um grau devastador de aquecimento;
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quase metade – 42% – acha que será mais de 3°C;
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apenas 6% acham que o limite de 1,5°C será alcançado.