A CBMM fabrica produtos de nióbio em Araxá (MG).
O nióbio é usado para dar mais resistência ao aço, em baterias, dentre outras funções.
Agora, Ricardo lidera mais um ciclo de investimentos de R$ 700 milhões em Araxá – tanto em tecnologia, como uma nova fábrica para aumentar a capacidade de materiais para bateria.
Vídeo:
No segundo semestre, a CBMM apresenta o primeiro veículo no mundo concebido com a tecnologia do nióbio.
“Vamos ter um ônibus 100% elétrico com óxido de nióbio na bateria feita pela Toshiba”, comemora o CEO da CBMM.
Você está na liderança da CBMM desde julho de 2022, mas já está na empresa desde 2018. Conte um pouco sobre a sua trajetória.
Sou formado em engenharia metalúrgica, nasci em São Paulo, comecei minha carreira numa empresa fabricante de aços especiais no Brasil e fiquei 14 anos na atividade siderúrgica. Depois, outros 14 anos, fui trabalhar com cimentos numa empresa de transformação. E, em 2018, recebi a oportunidade de me juntar à CBMM.
Qual é a marca que você quer colocar na empresa?
A CBMM tem 67 anos, e, desde a sua fundação, o principal desafio foi desenvolver produtos de nióbio. A companhia teve no seu programa de tecnologia um alicerce de crescimento, e assim é até hoje. Em 2018, constituímos uma área de estratégia pensando numa CBMM de longo prazo. Fizemos um plano enxergando a CBMM em 2030. É um plano aspiracional, e vimos que tem muito o que fazer ainda em aço. Tem um conhecimento adquirido que podemos levar para novas regiões. Se a gente pega o uso de nióbio em países que hoje são relevantes na produção de aço como Índia, segundo maior produtor de aço do mundo, ainda tem muito a ser explorado. Na própria China tem muito a ser explorado, então tem um conhecimento que já foi adquirido que podemos levar para novas regiões, e também para o Oriente Médio.
A CBMM é a que detém a maior tecnologia – por exemplo, 80% do mercado ainda continua com a companhia.
A gente quer aumentar o mercado. Antes da pandemia, vinha num patamar de 120 mil toneladas por ano de produtos de nióbio em geral. Com a pandemia caiu. No ano passado, voltamos a 120 mil toneladas por ano de novo, e, em 2023, estamos confiantes de ter um crescimento real. A CBMM sempre investe muito em tecnologia para criar esse mercado. No ano passado, investimos R$ 260 milhões em desenvolvimento de tecnologia. Neste ano, esse número vai crescer próximo a R$ 340 milhões.
Tem que investir cada vez mais em tecnologia para apresentar um portfólio mais variado para o mercado, para o mercado demandar mais da CBMM?
Dos R$ 360 milhões, R$ 95 milhões serão destinados a baterias neste ano.
No ano passado foi pouco mais de R$ 70 milhões para produto nas baterias. No ano passado foram R$ 72 milhões, e neste ano são R$ 95 milhões. Por que isso?
A gente está vendo que o nióbio pode ser utilizado no polo positivo, no polo negativo da baterias, conferindo novas propriedades em maior performance para essas baterias de acordo com aquilo que o mercado tem exigido. O programa de baterias se iniciou na CBMM em 2012.
Tem outro investimento que a CBMM está fazendo para construir uma nova fábrica dentro do complexo industrial existente em Araxá (MG) de US$ 80 milhões. O que está sendo feito em Araxá?
Os R$ 360 milhões são para desenvolvimento de tecnologia. Depois tem os investimentos no complexo industrial que está todo estabelecido em Araxá.
É tudo no mesmo espaço.
Exatamente. Neste ano, nós vamos ter investimentos da ordem de R$ 700 milhões no nosso complexo industrial em Araxá. Dentro disso temos os investimentos sempre para ter as melhores práticas ambientais, melhores práticas de segurança para que a gente tenha o estado da arte com relação aos nossos cuidados com os nossos funcionários, com a comunidade no entorno e também aumento de capacidade. Nós terminamos recentemente durante a pandemia um ciclo de investimento bastante importante que elevou a nossa capacidade ao ano de 100 mil para 150 mil toneladas por ano. Hoje, o nosso desafio é ocupar essa capacidade. Mas, em algumas linhas, a gente já passa a ter algum gargalo. Como estamos muito otimistas com crescimento da linha de óxidos para baterias – e também outras aplicações que a gente já atua, por exemplo, para a indústria óptica, e a gente vem experimentando também o crescimento nessas outras indústrias –, nós vimos que nós precisávamos de investimento para o óxido.
O óxido de nióbio é para ser usado na bateria do carro elétrico?
Não só para baterias, mas principalmente para baterias, que é a grande alavanca de crescimento que a gente vai enxergar daqui para frente. Então, aí vem esses US$ 80 milhões investidos em uma planta (indústria) em Araxá para que a gente possa estar pronto para essa demanda de mercado. Nós estamos no final da fase de desenvolvimento técnico – a gente chama de “prova de conceito” – e estamos agora estruturando as ações de ida ao mercado. Neste ano de 2023, já vamos vender cerca de 500 toneladas de óxido de nióbio para aplicação em baterias, mas esse número vai crescer bastante nos próximos anos.
E essa fábrica que está sendo construída em Araxá fica pronta no ano que vem e é para ter uma capacidade de 3.000 toneladas só de óxido de nióbio somente para o setor de eletrificação?
Essas 3.000 toneladas serão 100% dedicadas a um tipo de óxido destinado a baterias, desenhado para baterias.
Vocês escolheram o óxido de nióbio porque ele está tendo mais aceitação no mercado, foi pelos contratos, porque ele ajuda a acelerar a carga de uma bateria, é mais competitivo em relação aos outros concorrentes nessa corrida desse novo eldorado da eletrificação no mundo?
A gente comenta até que existe hoje uma corrida global pela melhor tecnologia para baterias. Vão ter diferentes tecnologias, diferentes químicas dependendo também do que você espera da bateria. Baterias hoje são utilizadas não só para os veículos elétricos, tem todos os equipamentos eletrônicos, tem mobilidade urbana que passa por patinetes, bicicletas, motocicletas, drones, robôs. Então dependendo do tipo de aplicação você vai exigir propriedades diferentes das baterias.
O que hoje é a principal aposta?
Começamos em 2012 a verificar isso. Em 2018, nós já tínhamos um nível de conhecimento suficiente para acelerar junto com algum parceiro um desenvolvimento mais dedicado diretamente no mercado. E aí fizemos, em meados de 2018, uma abordagem junto à Toshiba, que é uma líder mundial estabelecida no Japão para baterias e assinamos um contrato de desenvolvimento de tecnologia. Passados esses anos, temos hoje uma bateria que usa um óxido misto de nióbio e titânio que traz características bem interessantes. Esse óxido misto é utilizado no polo negativo da bateria, no ânodo. E quais são as principais diferenças em relação às tecnologias existentes hoje que utilizam essencialmente o carbono? A gente consegue ter uma carga rápida dessa bateria em condições de segurança, sem risco de superaquecimento, de explosão.
O que é carga rápida?
Menos de dez minutos. Hoje quem tem um carro elétrico, deixa ele algumas horas ligadas na tomada à noite, no dia seguinte sai e a sua bateria está com a carga cheia.
Mesmo na Europa, que tem os postos de carga nas ruas, tem que deixar o carro carregando.
São sete a oito horas. Então o que a gente acredita que será revolucionário? Baixar isso para menos de dez minutos.
Essa tecnologia já está pronta para ser colocada em prática?
Nós estamos na fase final de desenvolvimento. Estamos fazendo testes. No ano passado, início deste ano, produzimos 5.000 células em parceria com a Toshiba. Essas células foram enviadas a mercados potenciais, clientes potenciais que estão testando, dando retorno para um ajuste fino.
Tem uma outra parceria inédita para um ônibus 100% elétrico.
Fizemos com a Toshiba e agora com a Volkswagen Caminhões e Ônibus do Brasil uma parceria, um projeto. E o primeiro veículo no mundo a ser concebido com essa tecnologia está sendo construído no Brasil na fábrica de Resende (RJ) da Volkswagen. Está na fase final. Vamos ter um ônibus 100% elétrico com óxido de nióbio na bateria feita pela Toshiba. Ele está na fase final de construção, de testes em Resende, e a gente espera levar esse ônibus no segundo semestre deste ano para nossa fábrica em Araxá.
A montadora começa a produzir o ônibus em 2023?
Neste ano teremos o primeiro piloto. Agora estamos tratando de ter todo o ganho de escala. Passa por isso o nosso investimento nas 3.000 toneladas que a gente acredita que seja suficiente para os primeiros anos de atendimento ao mercado. Nossa fábrica estará pronta no primeiro trimestre do ano que vem para mandar (o produto) para a Toshiba. A Toshiba está vendo também toda a sua cadeia de fornecedores para estarem todos preparados para que nos anos de 2024 e 2025 a gente tenha realmente isso mais presente no mercado.
Qual é o volume de recursos que a CBMM vai ter que destinar para a produção de óxido de nióbio?
Para uma próxima etapa de 20 mil tonelada, será preciso um investimento da ordem de R$ 2 bilhões. À medida que a gente vai aprofundando os trabalhos com a nossa engenharia – nós temos um time de engenharia em Araxá com muita experiência –, vamos tendo mais certeza com relação a esses valores.
Os R$ 2 bilhões teriam um início de investimento a partir de que ano?
No ano de 2024 estamos lançando as 3.000 toneladas. A gente espera que isso seja suficiente para cerca de três anos; o tempo para que a gente tenha essa nova fábrica de 20 mil toneladas é também da ordem de três anos. Então, no próximo ano, a gente já vai ter que estar estudando como é que a gente inicia esses projetos.
O que a gente pode esperar mais da empresa em Araxá, não somente em investimentos? Já são 2.000 pessoas, não é?
A CBMM toda tem, não somente em Araxá, cerca de 2.000 funcionários, mas o grande contingente está em Araxá. São 1.800 funcionários em Araxá.
Pode ter mais contratação em Araxá?
A nossa expectativa é de crescimento. Como a gente cresce em módulos, a gente vai tendo aumentos do nosso pessoal também em módulos. Mas a expectativa é de crescimento à medida que a gente for atingindo nosso plano de aspiração estratégica de crescimento em todos os segmentos.
A capacidade instalada é de 150 mil toneladas de produtos de nióbio depois do ciclo de investimento de R$ 3 bilhões. O novo investimento passa pelo aumento da capacidade instalada para chegar a 180 mil, 185 mil toneladas, ou não? Precisa ver como é que o mercado vai reagir para justificar um novo ciclo de R$ 9 bilhões?
Quando fizemos nosso planejamento de 2030, nós vimos que a companhia tem potencial para dobrar de tamanho. É claro que depende de todo o contexto global. Covid atrapalhou? Sem dúvida que atrapalhou. Conflito entre Rússia e Ucrânia atrapalhou? Sem dúvida. Então isso mexe um pouco no ritmo, mas nossa obrigação é buscar esse potencial todo. Nós estamos fortemente dedicados, e hoje a cultura da companhia é uma cultura focada no crescimento.
A CBMM tem 400 clientes em 50 países e tem um plano de descarbonização até 2040. Essa pressão por um produto totalmente sustentável está cada vez maior?
Cada vez mais. Eu tive há cerca de um ano uma reunião com um cliente na Suécia, e a gente estava numa negociação de contrato em que a gente passava para discutir volumes, preço, e eu fui preparado para isso. A primeira pergunta que o cliente fez: “eu quero saber como estão as suas emissões de CO2. Quanto a CBMM emite em CO2? O que a CBMM está fazendo para ser neutra em carbono?”. Eu não estava esperando essa pergunta.
Mas você tinha na ponta da língua.
Sim. Depois eu expliquei para ele o que o nióbio podia fazer para ajudá-lo a reduzir também (as emissões de carbono) dele. Fechamos o contrato, deu tudo certo. Alguns meses se passaram, em fevereiro agora eu estava na Índia para uma negociação também com um grande cliente produtor de aço inoxidável na Índia. Cheguei lá, e qual foi a primeira pergunta? “Ricardo, quanto vocês estão emitindo de CO2?”. Essa evolução está ocorrendo em todo o mundo.
O Ministério Público de Minas Gerais entendeu que o contrato da CBMM com o governo do Estado, por meio da Codemig, é legítimo. Isso põe fim às discussões?
A CBMM sempre foi reconhecida no mercado pelas suas práticas éticas. Esse inquérito que vinha por cerca de dez anos foi encerrado agora porque foram feitos todos os levantamentos, e foi comprovado, com todas as evidências, que a CBMM, junto com a Codemig, cumpre o contrato que foi estabelecido sem nenhuma distorção.
A CBMM paga 25% do lucro líquido (em 2022, R$ 1,4 bilhão) ao Estado?
Sim. Esse contrato prevê uma lavra igualitária da mina do Estado e da mina da CBMM, isso ficou comprovado e o contrato está sendo cumprido.
Tem deputado estadual dizendo que vai abrir CPI na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Ministério Público Federal e Tribunal de Contas do Estado ainda com ações questionando… Isso caminha para um fim de entendimento?
Acho que sim. A gente não tem dúvida de que está tudo muito certo, muito transparente. Estamos aqui, livros abertos, não temos nenhum receio de nenhum problema, porque as coisas sempre foram praticadas da melhor forma possível.
Frases de Ricardo Lima, CEO da CBMM
“Em 2021, o faturamento foi de R$ 11,4 bilhões. Em 2022, foi de R$ 11 bilhões. Neste ano, a aspiração é crescer bem no volume.”
“A China é o maior mercado da CBMM. Hoje, a China está na ordem de 40%. Ainda tem um potencial muito alto de inserção do nióbio na China.”
“A cada três meses, juntamos nossos funcionários e, em cada um dos turnos, reportamos a eles nossos resultados.”
“São mais de 120 pessoas para desenvolver os processos em Araxá, como desenvolver processos dos nossos clientes.”
“Por estarmos presentes em mais de 50 países, a CBMM é uma empresa brasileira com atuação mundial.”
Fonte: https://www.otempo.com.br/mobile/minas-s-a/cbmm-investe-mais-r-700-milhoes-neste-ano-em-araxa-mg-1.2872763?utm_source=whatsapp