Fabrício Queiroz, ex-assessor e motorista de Flávio Bolsonaro (PSL) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), garantiu que entregaria uma lista de funcionários ilegais do gabinete ao Ministério Público. Ele contratava pessoas de forma irregular usando o dinheiro que os servidores comissionados devolviam – parte de seus salários – ao então deputado estadual, que hoje é senador. O atraso foi noticiado pela Folha de S. Paulo.
Além do atraso, ainda é preciso esclarecer: onde está Queiroz? Porque ele sumiu? Porque os Bolsonaro evitam mencioná-lo?
Relembre o caso
Queiroz afirmou, por meio de sua defesa, que era o responsável por recolher uma parte dos salários dos funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro. De acordo com a declaração, os valores eram utilizados para remunerar pessoas contratadas de maneira irregular, fora da estrutura oficial do mandato de deputado estadual. A Promotoria investiga o ex-assessor por suspeita de lavagem de dinheiro e ocultação de bens, com base em informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
A explicação foi dada para justificar a movimentação de R$ 1,2 milhão na conta do motorista, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. O relatório apresentado pelo Coaf registrou depósitos em espécie e de altos valores, nos dias de pagamento da Alerj, de ao menos dez outros assessores de Flávio para a conta de Queiroz. Entre os depositantes, estão a filha e esposa do ex-assessor.
Amizade de longa data
Fabrício Queiroz e a família Bolsonaro mantém laços de amizade há tempos. Jair Bolsonaro e o ex-assessor são parceiros desde a década de 1980. Os registros dos momentos de lazer que vivenciaram estão espalhados pelasredes sociais. Nos anos 2000, Queiroz passou a trabalhar como motorista e segurança de Flávio Bolsonaro, filho primogênito de Jair. Ele foi exonerado da função recentemente, em outubro de 2018.
Flávio também empregou a filha de Queiroz em seu gabinete, entre 2007 e 2016. Ao ser exonerada em 2016, foi nomeada no gabinete de Jair, que na ocasião era deputado federal, em um intervalo de menos de uma semana. Márcia Aguiar e Evelyn Queiroz, esposa e outra filha do motorista, respectivamente, também foram funcionárias no gabinete de Flávio.
Combate à corrupção? Moro omisso
O combate à corrupção no desgoverno de Jair Bolsonaro – com o juiz Sérgio Moro como ministro da Justiça – parece correr em ritmo inversamente proporcional ao que bradam no discurso. De acordo com a Folha, Flávio não quer comentar o assunto. O restante da família também ignora o escândalo revelado antes mesmo da posse do atual presidente. A situação é inusitada, já que até Michelle Bolsonaro, esposa de Jair, é alvo de investigação. Michelle recebeu de R$ 24 mil em cheque depositado por Queiroz. Bolsonaro justifica que o amigo lhe devia dinheiro e que, como é muito ocupado, o pagamento foi realizado por meio de depósito para a primeira-dama.
Moro se esquiva de comentar o assunto e faz uma blindagem a família Bolsonaro, que quer abafar o caso. O silêncio do juiz e da “república de Curitiba” causam indignação. Em janeiro, ele foi abordado por um cidadão, em um supermercado, que questionou: “Por que o Queiroz não é a pauta?” O episódio foi gravado e o vídeo foi divulgado nas redes sociais. Em diversas ocasiões, Sergio Moro desconversou sobre o Caso Queiroz. Ele afirma que Jair Bolsonaro já esclareceu os episódios em que está envolvido, referentes à investigação.
Ao fim e ao cabo, o governo age com falta de transparência ao não prestar esclarecimentos públicos sobre o caso, que envolve amigos e familiares do chefe do Executivo. Ninguém responde onde está o Queiroz, morador de uma casa simples na Zona Oeste do Rio, que não condiz com a movimentação financeira registrada no relatório da Coaf. Em janeiro, a coluna de Lauro Jardim, no Globo, informou que Queiroz se escondeu na favela de Rio das Pedras, também na Zona Oeste do Rio, após a primeira denúncia. Dominada pela milícia mais antiga da cidade carioca, a comunidade é a segunda maior favela da capital.