Futebol é só diversão, jogadores não são heróis, nada tem a ver com patriotismo e só melhora a vida de jogadores, equipe técnica e sobretudo “cartolas”. Admitir isso é tirar a condição de “alienador” ao futebol e passar a curtir de forma sadia, sem fanatismo e sem a monotonia que a mídia tenta nos impor.
Bom futebol a vocês. Mas antes, reflitam sobre o que está acontecendo em suas vidas. Existem muitas coisas que a simples entrada de uma bola em uma trave nunca poderá resolver.
Os defensores do futebol como principal meio de lazer (e de auto-afirmação) das massas, vivem contestando que o futebol é alienação. Intelectuais de esquerda, mesmo os mais brilhantes, não fazem nenhuma crítica ao fanatismo futebolístico. Jovens futeboleiros questionam a associação entre o seu esporte favorito e alienação, muitas vezes argumentando que é o contrário. Mas aqui, farei o que ninguém ainda fez: vou explicar de maneira objetiva a relação entre futebol e alienação, sem subjetivismo e sem usar termos ofensivos.
Vou começar com uma pergunta: Futebol é alienação? A resposta certa: o esporte em si não é, mas todo o conceito construído em torno dele é que é alienação. Como assim?
O futebol surgiu como mero instrumento de lazer. Veio da Inglaterra, trazido por Charles Muller. No início, o nome era Football, em inglês mesmo (alguns times, como o Fluminense ainda mantém o “football” em sua razão social). Numa tentativa de traduzir o termo, houve a sugestão de chamar o esporte de “Ludopédio” (diversão dos pés), deixando bem claro o seu espírito lúdioco.
Mas em algum ano, não sei dizer qual e nem o motivo, transformaram o que deveria ser um mero esporte, com fins exclusivamente lúdicos, na razão de ser do povo brasileiro, normalmente com a auto-estima bem baixa. O futebol foi colocado num contexto muito superior ao que foi criado. E é aí que reside a alienação.
O futebol, se fosse tratado como mero esporte, sem associação a valores superiores, respeitando a liberdade de adesão ou não e não colocando como prioridade acima de questões mais importantes, estaria bem longe de ser definido como instrumento de alienação. Mas não é isso que ocorre em nosso país.
Os brasileiros usam o futebol como o mais importante instrumento de sociabilização que existe, seguido das festas/noitadas e do hábito de tomar cerveja. Além disso, costumam associar o esporte valores superiores, como educação, bom mocismo e o pior: patriotismo. Torcer pela Seleção Brasileira de Futebol masculino oficial ganhou status de “dever cívico”. Não aderir a histeria coletiva das copas é considerada uma ofensa à população em geral e a nação como instituição. Gera muitos conflitos. E nisso também se caracteriza a alienação.
E a alienação gera o fanatismo que coloca o futebol acima de tudo e de todos. Para piorar ainda mais a alienação, lembremos que o esporte e si não estimula intelectualismo. Pudera, a maioria dos jogadores nem têm o primeiro grau completo. Poucos têm o analfabetismo literal, mas quase todos têm o analfabetismo funcional. A coisa é tão grave, que quando transferidos para o exterior, para países que valorizam a educação de qualidade, são obrigados a estudar, para não passarem vergonha. Mesmo assim, muitos hábitos de sua jeca vida nas favelas, campos e periferias não desaparecem, servindo de estímulo para que a sociedade toda nivele para baixo o seu nível intelectual, dado o enorme poder de influência que um jogador tem para “regular” a sociedade.