Mulher falou com exclusividade à reportagem de O TEMPO; história veio à tona depois que gestante contou o caso para o então marido; Diocese de Governador Valadares publicou um comunicado em seu site oficial
O padre Cézar Ribeiro de Freitas foi suspenso de suas atividades ministeriais na Paróquia de São José, em Conselheiro Pena, na região do Vale do Rio do Doce, após ser descoberto que ele mantinha um relacionamento amoroso com uma cristã.
Um comunicado oficial foi publicado no site da Diocese de Governador Valadares, nessa quinta-feira (6), justificando aos fiéis o afastamento do pároco. O comunicado é assinado pelo bispo diocesano Dom Antônio Carlos Félix.
De acordo com o assessor de comunicação da diocese, padre Gilberto Faustino, a história foi descoberta em abril deste ano, após a Semana Santa, momento em que os católicos dedicam à reflexão de suas atitudes, ao relembrar o sofrimento e morte de Jesus Cristo.
“Foi uma denúncia, a comunidade que fez. A Igreja acolhe o que a comunidade diz e, a partir daí, vai buscar constatar os fatos. O padre foi chamado para conversar e ele confirmou, sendo este o motivo da suspensão”, explicou.
Freitas era pároco na cidade havia cerca de três anos e, há aproximadamente três meses, deixou as dependências da Igreja Católica. Faustino garantiu que a diocese mantém contato com Freitas, mas negou saber onde ele está.
A mulher que se envolveu com o padre também foi ouvida pela Igreja, e, com exclusividade, conversou com a reportagem de O TEMPO. A um mês de dar à luz uma menina, a advogada, que era casada há 18 anos e pediu para não ter a identidade revelada, explicou, sem dizer se teve um relacionamento longo com o padre, que a história veio à tona quando soube de sua gestação.
“Descobri que estava grávida logo no começo. Contei para o meu então marido, e nós nos separamos. Depois disso, ele foi até Governador Valadares procurar a diocese”, contou a mulher.
Durante todos esses meses, o homem teria cobrado do bispo diocesano de Governador Valadares uma punição para o pároco. Na última semana, a gestante passou mal e o padre foi até a sua casa saber como estavam passando mãe e filha. Isso teria irritado o ex-marido, que chegou a fotografar o encontro e ainda chamar outras pessoas para que pudessem servir de “testemunhas”.
“Mesmo eu estando separada, ele chamou quatro pessoas na minha porta para fotografar e filmar o pai da minha filha aqui. Ele é uma boa pessoa e se preocupa com o bebê, como qualquer outro pai. Foi uma situação normal, que teve uma repercussão desnecessária”, disse a grávida.
Mãe de dois meninos, de 7 e 11 anos, frutos do casamento, a mulher afirmou que as crianças ficaram sabendo de toda a história no começo da sua gravidez. “É uma situação muito íntima, mas que tomou uma proporção enorme. Muitas pessoas julgam sem saber o que aconteceu e tiram conclusões precipitadas. Além disso, acredito que a Igreja tenha exagerado ao publicar o caso com tantos detalhes. Não precisava tanta exposição”, desabafou.
Sem dizer se ainda mantém algum relacionamento amoroso com o padre, a advogada, que tem um escritório na cidade, diz que está focada na profissão e na criação dos filhos.
Minientrevista
Como está a sua vida depois que a história veio à tona?
Estou trabalhando normalmente e cuidando dos meus filhos. Quando não estou no escritório, fico na minha casa e não converso muito com os outros moradores. Durantes esses meses, ninguém veio me questionar nada.
Você pensou em se mudar da cidade?
Não, apesar de ter receio dos prejuízos que essa exposição possa me trazer. Meus familiares também moram aqui. Não teria condições de ir embora sozinha com meus filhos. Vou ficar aqui e trabalhar para sustentá-los.
O que você achou do comunicado publicado no site da diocese?
Acho que a Igreja não precisava ter colocado tantos detalhes. Era só ter publicado o afastamento e ponto. A cidade é pequena, meu ex-marido já tinha contado para algumas pessoas e a diocese expôs mais ainda um caso que era de família.
Pretende tomar alguma providência contra a Igreja por causa do comunicado?
Não pensei nisso. Minha filha nasce no mês que vem e eu só quero ter paz para seguir com a minha vida tranquila.
“Julgamento”
O padre Cézar Ribeiro de Freitas não apresentava qualquer desvio de comportamento em suas funções eclesiásticas, cumprindo todas as suas responsabilidades como pároco, segundo o assessor diocesano Gilberto Faustino. “Agora, o bispo vai montar um processo com muita cautela, e a conduta dele será avaliada até pelo Vaticano”, afirmou.
A história que abalou os mais de 22 mil habitantes da cidade, ao que tudo indica, aconteceu pela primeira vez no pequeno município. Mesmo assim, segundo os preceitos da Igreja Católica, Freitas nunca deixará de ser padre, já que, no momento de sua ordenação, ele recebeu uma benção divina, que não pode ser retirada. Neste caso, a “punição” possível é que o sarcedote deixe de exercer os ministérios da Igreja, como celebrar missas e atender a confissões.
Apesar da repercussão do caso, os moradores de Conselheiro Pena abordados por O TEMPO não quiseram comentar a história, em respeito ao ex-casal e ao padre.
O bispo Félix, responsável pela Diocese de Governador Valadares, que, atualmente, responde por 52 paróquias, foi procurado pela reportagem, mas não retornou às ligações. Já o padre Cézar Ribeiro de Freitas não foi localizado.
Confira o comunicado da Diocese de Governador Valadares na íntegra:
“Prezados leitores, lamento ter que comunicar que o Padre César Ribeiro de Freitas foi suspenso de ordem por causa de envolvimento afetivo-sexual com uma mulher casada, provocando a separação do casal e escândalo à comunidade.
Doravante, Padre César está proibido de exercer o ministério presbiteral e, portanto, proibido de celebrar missas e os demais sacramentos nesta e em qualquer outra diocese, e deverá deixar a casa paroquial da Paróquia Sagrada Família, onde reside, imediatamente.
Comunico o afastamento do Padre César Ribeiro de Freitas do exercício do ministério sacerdotal”.
Governador Valadares, 06 de novembro de 2014.
DOM FÉLIX – Bispo Diocesano de Governador Valadares
Livro
O relacionamento amoroso vivido pelo padre Freitas e a advogada não é incomum na história da Igreja Católica, que prega o celibato. Em 1875, foi publicado pela primeira vez o livro “O crime do padre Amaro”, de Eça de Queirós.
A narrativa, além de denunciar o favorecimento da igreja a elite da época, com a manipulação da população, conta a história de um padre que se envolve com uma mulher, que engravida. Mantida em sigilo, a amante tem a criança e ele o entrega à morte. Ao se arrepender do assassinato do filho, ao descobrir que a mulher não resistiu ao parto, ele tenta salvar a criança, mas não chega a tempo.
O personagem padre Amaro conheceu Amélia nas missas que celebrava e os dois sentiam grande atração. Após descobrir que seu mestre, um cônego, também mantinha um relacionamento às escondidas, ele se entregou à experiência.
Durante o tempo em que fica com a moça, Amaro mantém suas atividades na igreja. Mesmo com a morte da mulher e do filho, ele continua fingindo o celibato, já que não chega a ser descoberto.
FONTE: O TEMPO