Discriminação socioeconômica e racial tornou a música “Delação Premiada”, de MC Carol, um dos grandes sucessos do ano. Lançado há uma semana, o hit viralizou nas redes sociais por jogar luz sobre a forma diferenciada como a polícia trata políticos acusados de corrupção e suspeitos de delitos nas periferias do Brasil. “Três dias de tortura numa sala cheia de rato. É assim que eles tratam o bandido favelado. Bandido rico e poderoso tem cela separada. Tratamento VIP e delação premiada”, diz a letra a música.
Em entrevista à Marie Claire, MC Carol, nascida em Niterói, no Rio, contou conhecer de perto a violência policial nas regiões mais pobres do Rio, já que mora próximo da comunidade onde nasceu. “Quando o policial vai abordar um morador, às vezes, a pessoa tem que deitar no chão enquanto o policial fala com ignorância, usa palavõres, agride. Se o cara é realmente um traficante, eles partem para a tortura e até morte”, explicou. “Agora, quando vão prender uma pessoa com muito dinheiro, um artista ou político, é diferente. Eles tocam a campainha de casa”.
A funkeira fez uso de um ritmo chamado trap, subgênero do rap, para fazer a denúncia dos abusos de forma segura, pois, do contrário, poderia colocar sua própria vida em risco. “Falar sobre isso é perigoso. Se eu colocar na batida do funk vou ter minha música classificada como funk proibidão”, disse ao ressaltar que agentes poderiam retaliá-la.
O rap é conhecido por trazer letras a respeito da opressão sofrida por minoriais, em especial das periferias pelo mundo. Esta tradição faz do trap um opção segura. “Chega a ser engraçado. É música, mas em batidas diferentes. Tem toda essa discriminação contra o funk”.
MC Carol é uma das poucas artistas de forte apelo popular a usar sua música para tratar do tema no Brasil nos últimos meses. A canção foi comparada nas redes sociais com “Formation”, hit de Beyoncé sobre a violência policial contra negros nos Estados Unidos. Ela confessa ainda desconhecer o hit da cantora norte-americana, mas acredita como Queen Bey na força da música como propagadora de mensagens sociais.
“A música é uma forma de comunicação. Falo sobre coisas engraçadas, sexualidade, mas temos que abordar questões sérias também. Só que as pessoas não querem falar sobre violência porque não dá dinheiro”.
Com apenas 22 anos de idade, MC Carol também foi comparada a outro nome da música, Tati Quebra Barraco. Mas não foi apenas isso. Ela ouviu da própria funkeira, durante o reality show “Lucky Ladies, da Fox, que seria sua substituta natural. “Sou muito fã dela, a admiro muito. Cheguei a me emocionar quando ela falou isso”.
Seu último álbum, “Bandida” está disponível nas principais plataformas de música, como Spotify, Deezer, iTunes, Google Play e Napster.
Fonte: revistamarieclaire.globo.com